A responsabilidade com as próprias atitudes, a eficiência pública e o poder da iniciativa foram alguns dos temas debatidos na tarde desta quinta-feira (27), último dia do VI Seminário de Planejamento Estratégico Sustentável do Poder Judiciário. O evento teve início na manhã de ontem no auditório do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e contou com a participação de especialistas de diversas áreas, em um total de dez palestras.

Durante a palestra “Mindset Sustentável – uma questão de comportamento para a mudança de hábitos”, o advogado da União e mestre em direito econômico e socioambiental Valter Otaviano da Costa Ferreira Júnior falou sobre a importância da mudança de hábitos para a sustentabilidade, com destaque para a empatia e a capacidade de se comunicar.  

“Sustentabilidade não é só aplicar uma norma. Isso é fundamental, mas é também conexão e empatia. O que é empatia? É se colocar no lugar do outro. Quando eu me coloco no lugar do outro, a minha visão muda completamente, e começo a ver coisas diferentes. Aqui, uma questão fundamental para nós, que somos gestores e servidores públicos, é saber se comunicar. Muitas vezes não conseguimos mais do que precisamos porque nossa comunicação não é efetiva. Desenvolvimento sustentável, na minha visão, passa pelo desenvolvimento humano”, afirmou Valter Otaviano.

Gestão pública e a eficiência

Na sua palestra, o doutor em administração pública, economista e professor Francisco Gaetani destacou que hoje o poder é difuso e fragmentado, e isso gera dificuldades para um discurso único. “Precisamos de negociação que chegue a um consenso. A era do ‘prendo e arrebento’ já acabou”, disse. O palestrante afirmou que a gestão pública deve se preparar para lidar com o novo cenário de notícias imediatas, a mediatização da vida e o pluralismo cada vez maior. “Isso pode tanto estimular o pensamento crítico quanto disseminar notícias falsas”, observou.

Gaetani também criticou o fato de que, embora o Brasil tenha um enorme aparato e leis de combate à corrupção, há muito pouco para a busca de eficiência. “Reforçamos a zaga, mas não temos dado apoio a quem faz gol”, comparou. Segundo ele, o governo federal é desnivelado, tendo ministérios e agências altamente profissionalizados e outros que parecem improvisados.

“O mundo hoje tem várias urgências, que precisam ser tratadas por todas as nações, como mudanças climáticas, revolução digital e o custo social da estagnação econômica. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU são uma maneira de facilitar o diálogo, a acumulação, a troca de experiências e a criação de soluções locais”, completou.

Sustentabilidade no tribunal

Na apresentação de caso prático “Sustentabilidade no TSE – ervas medicinais e ressocialização”, a coordenadora de serviços gerais do Tribunal Superior Eleitoral, Eliane Alves, falou sobre a experiência de implementar uma horta no tribunal. O projeto foi iniciado em fevereiro de 2017 e, mesmo sem orçamento, teve como resultado o cultivo de ervas como camomila, capim-santo e hortelã, que são consumidas às sextas-feiras, em chás oferecidos aos servidores.

“Nosso projeto foi apresentado com mais ou menos 20 itens de que precisaríamos para o plantio, mas foram autorizados dois ou três itens somente. Não é que o tribunal não quisesse autorizar, mas não existia orçamento. Comecei a visitar várias hortas em Brasília, fui atrás de uma oficina paga e fiz um acordo com a professora para conseguir uma redução no preço para levar a oficina ao tribunal. Foi um sucesso, e as pessoas pagaram pelas primeiras mudas da horta”, explicou Eliane.

Outro caso prático, chamado “Uma pesquisa sobre a importância da sensibilização socioambiental – o caso do TRE/RJ”, mostrou o resultado de questionamentos feitos aos servidores a respeito de sua atitude sobre os problemas ambientais. Segundo a servidora Cláudia Oliveira, da Assessoria de Planejamento do tribunal, o resultado foi surpreendente.

“A pesquisa foi realizada para medir os impactos da ação de sensibilização promovida pela equipe ambiental do TRE do Rio de Janeiro nas atitudes do público interno. Tivemos 128 respostas, do total de 1.300 servidores. Na pesquisa, 62% das perguntas foram respondidas por mulheres e 82%, por servidores lotados na sede. Isso mostra que devemos atuar mais nos cartórios. A primeira pergunta era se você se considerava uma pessoa preocupada com questões ambientais, e 95% dos que responderam falaram que sim. Foi uma surpresa”, afirmou Cláudia.

Poder da iniciativa

Ao falar sobre “Atitudes transformando instituições”, o fundador e principal executivo do Grupo Amana-Key, especialista em gestão, estratégia e liderança, Oscar Motomura, abordou a relação entre ética e sustentabilidade. Ele ressaltou que os líderes de organizações, tanto privadas quanto públicas, assim como cada um individualmente, precisam estar conscientes das questões ambientais para corrigir o que não é sustentável. “Nós temos uma responsabilidade imensa sobre as consequências de longo prazo de todas as decisões que tomamos e de nossas atitudes”, ressaltou.

Como exemplo do poder da iniciativa, o palestrante mostrou um vídeo sobre um grupo na Estônia, que se mobilizou e conseguiu reunir 50 mil pessoas em um dia para um mutirão de limpeza na floresta que era usada como depósito para todo tipo de lixo. Em seguida, exibiu um vídeo com o relato de Sebastião Ribeiro do Nascimento, conhecido como Zumbi, líder comunitário da Vila Esperança, no município de Cubatão (SP). Ele fundou a ONG Cubatão de Bem com o Mangue, que promove atividades de educação ambiental, aulas e cursos técnicos para a população, além de buscar a urbanização do local.

Zumbi também estava na plateia do seminário e, passados 15 anos da gravação exibida, contou que se formou em direito. Em sua fala, comentou a importância dos sonhos e afirmou que o propósito de cada um ao final do seminário deve ser melhorar o país, inspirando-se nos exemplos apresentados nos dois dias de evento.

Institucionalização

O seminário foi encerrado com um bate-papo interativo sobre avanços na sustentabilidade na administração pública, conduzido pela advogada da União Teresa Villac e pela assessora-chefe de gestão socioambiental do STJ, Ketlin Feitosa Scartezini. As duas compartilharam histórias e experiências sobre a institucionalização dos temas relativos à sustentabilidade, passando por todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

A advogada da União lembrou que, como forma entender melhor o sentido e o impacto da sustentabilidade, precisou visitar as cooperativas que integravam ações de aproveitamento de resíduos. “Tiramos o direito da lei para ir para o direito da vida real”, afirmou Teresa. Já a assessora-chefe de gestão socioambiental do STJ compartilhou suas experiências no TSE, onde foram implementados alguns dos primeiros projetos de controle dos gastos de insumos e de ações de valorização humana, como iniciativas de alfabetização de colaboradores. 

Ketlin Feitosa lembrou que mais de 2.500 pessoas já passaram por todas as edições do seminário de sustentabilidade, que tiveram a participação de mais de 50 instituições. Ela também lembrou que, exatamente após os debates da primeira edição do seminário, começaram os trabalhos que resultaram na edição da Resolução 201 do Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre os planos de logística sustentável no Poder Judiciário.

No final do bate-papo, Teresa Villac também ressaltou que os servidores públicos precisam ser protagonistas das ações de sustentabilidade, tanto em relação aos seus hábitos quanto na forma de pensar o seu trabalho. “Aqui, o serviço público, é um lugar de reflexão contínua sobre a sustentabilidade”, afirmou.