Palestrantes falam sobre suas vivências na prática da advocacia para mulheres, na polícia judiciária, na política e em espaços de poder.
O Mês da Mulher AASP chega ao seu décimo dia com o painel “Os diferentes espaços de atuação da mulher formada em Direito”, realizado com moderação de Flávia Fornaciari Dorea, Diretora Cultural da AASP, e palestras de Gabriela Souza, especialista em Direito das Mulheres, Professora e Sócia-Fundadora do primeiro escritório de advocacia para mulheres do Sul do país; Patricia Pinheiro Crisóstomo, Delegada da Polícia Civil do Estado da Bahia e Autora do Projeto Fotográfico Benssaganas Culturais – Damas de Bênção e Poder do Candomblé da Bahia; e Regina Ferrari, Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Acre (TJAC) e Mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
“Hoje vamos tratar das questões jurídicas. A ideia é muito mais do que debater teses ou problemas que nós Advogadas, Advogados, Juízas, Juízes ou Operadores do Direito enfrentamos no dia a dia da nossa profissão, e sim trazer para discussão os diferentes espaços de atuação enquanto Operadoras do Direito”, disse Flávia na abertura do painel.
Gabriela falou sobre sua experiência na advocacia para mulheres. “Podemos pensar que a perspectiva de gênero não é uma área específica da advocacia, mas isso é engano, porque a advocacia para mulheres tem como objetivo fundamental, e convergente com a Agenda 2030 da ONU, o desenvolvimento sustentável e a equiparação e equidade de gênero”, explicou.
“O meu espaço de atuação também é meu propósito de vida, que é impulsionar o Judiciário a ter um novo pensamento jurídico. Nessa área, precisamos lidar com algumas questões que não encontramos em outras áreas do Direito, como o ódio em massa em relação as mulheres, mas também enfrentamos a própria violência doméstica por meio do acolhimento as nossas clientes e da atuação direta da rede de acolhimento, que muitas vezes é também responsável pela revitalização dessa mulher que vive uma romaria para garantir seus direitos básicos”, completou.
Patricia dividiu suas experiências na área da polícia judiciária. “Aqui no Nordeste, não só na Bahia, nós temos um recorte muito grave estatisticamente, que é uma ou duas mulheres assassinadas por dia em virtude da violência de gênero. Em relação às mulheres negras, infelizmente a realidade é terrível. As estatísticas apontam que 80% das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar na Bahia são negras”, exaltou.
“Minha preocupação como Delegada é como garantir os direitos dessas mulheres, que, ainda que já tenham dito a tutela jurisdicional, são vítimas de feminicídio e são agredidas muito posteriormente ao deferimento das medidas. Essa é a nossa realidade prática. Espaços como esse evento, onde trazemos a oportunidade de discutir não só o Direito, mas a aplicabilidade dele, são raros e necessários, porque nós não temos muitos motivos para comemorar, apesar das nossas conquistas, que são diárias”, finalizou.
Regina falou sobre sua atuação no âmbito judiciário, ressaltando a participação da mulher na política e em lugares de poder. “Antigamente assuntos de negócios e de política não podiam envolver mulheres. Hoje já temos mulheres atuando nessas áreas, mas são poucas. Para a nossa luta contra o enfrentamento da violência doméstica, precisamos ter mais representatividade nos espaços de poder”, disse.
“É certo que o Estado precisa avançar muito nas ferramentas de enfrentamento e proteção à mulher. Acredito muito na educação, que deve correr junto com as ferramentas de punição e prevenção para garantir uma nova geração consciente”.
No encerramento do debate, Flavia ainda ressaltou que todos os webinars do Mês da Mulher AASP estarão disponíveis, em breve, na AASPFlix, ferramenta de streaming gratuita para associadas e associados AASP.